Do Observatório Covid19 – Fiocruz 

Margareth Crisóstomo Portela, Victor Grabois e Claudia Travassos

Apresentação

Pelo potencial de contágio, características da evolução e grau de complexidade de cuidados de saúde que pode requerer, a Covid-19 tem colocado imensos desafios para os sistemas de saúde dos diferentes países onde se propaga. Medidas de contenção e mitigação da pandemia, incluindo o distanciamento físico, testagem, isolamento de casos, minimização da circulação de pessoas e uso de máscaras têm sido amplamente preconizadas com vistas a evitar o crescimento descontrolado de casos e o colapso dos sistemas e serviços de saúde.1,2 Estima-se que cerca de 80% dos casos de Covid-19 tenham manifestações leves ou mesmo sejam assintomáticos e 20% sejam de gravidade moderada ou grave.3 Desse modo, a Covid-19 incorre em uma elevada demanda por cuidados de saúde nos diferentes níveis de atenção, totalmente fora de padrões usuais, com destaque para a demanda a recursos hospitalares altamente complexos para tratamento de cerca de 5% dos casos graves.4,5 Tal demanda concorre com a demanda regular aos serviços de saúde nos diferentes níveis de atenção que, em condições normais, comumente já enfrenta gargalos no país. Por outro lado, impõe preocupações adicionais pelo elevado índice de transmissibilidade do Sars-CoV-2, Coronavírus transmissor da doença Covid-19, que expõe profissionais de saúde e pode expor pacientes com outras condições de saúde ao utilizarem os serviços de saúde.

O documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) intitulado “Critical preparedness, readness and response actions for COVID-19” 6 sistematiza quatro cenários de transmissão possíveis que estão presentes nos diferentes municípios do país, sendo estes: 1) não há casos relatados; 2) há casos esporádicos, um ou mais, importados ou localmente adquiridos; 3) há agregados de casos, com a maioria relacionada à transmissão local e envolvendo cadeias de transmissão já existentes nos municípios; 4) há grande elevação do número de casos com cadeias de transmissão amplamente disseminadas no município. Nos cenários 1 e 2, já é colocada a necessidade de se preparar para o aumento da demanda aos serviços de saúde. No cenário 3, a sobrecarga do sistema de saúde já se encontra colocada como uma realidade, havendo necessidade de se organizar a ampliação da oferta de serviços e de outros recursos que se façam necessários. No cenário 4, coloca-se a possibilidade de crise no sistema de saúde, havendo necessidade de implementação de planos de aumento das capacidades do sistema de saúde, assim como de ganho de escala e velocidade neste processo.

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, marcado por contextos muito diversos e imensas desigualdades regionais na oferta de serviços e desigualdades sociais no acesso, especialmente aos serviços de média e alta complexidade, um dos desafios colocados para o enfrentamento da Covid-19 é a necessidade de adoção de estratégias diversas de mitigação da pandemia, assim como de organização da rede de serviços de saúde disponíveis.

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