Daiane Batista | CEE Fiocruz

“O gasto per capita da iniciativa privada é quatro vezes superior ao gasto per capita do Sistema Único de Saúde (SUS). Gastamos pouco em saúde pública e precisamos aumentar o financiamento do sistema por meio do gasto público”, avalia o médico sanitarista, Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em entrevista concedida ao CEE Podcast, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho. “Precisamos ter consciência de que falta dinheiro para o SUS”, diz Vecina. Ele faz uma análise dos desafios do Sistema Único de Saúde e observa que a desigualdade ainda é um determinante social importante no país, dificultando que o SUS alcance um de seus princípios constitucionais, a universalidade. “Somos uma sociedade complexa, com características extremamente desiguais. Uma sociedade mais igualitária, com certeza, nos levaria a alcançar a universalização e a melhorar nossa capacidade de acionar a integralidade”, destaca.

Segundo Vecina, temos no próprio SUS instrumentos em prol de mais equidade, e programas como a Estratégia Saúde da Família conferem ao sistema um dos seus grandes avanços e sucessos. “Na década de 60, os centros de saúde esperavam a doença chegar; hoje, o agente de saúde entra nos lares brasileiros para fazer promoção da saúde, é a porta de entrada do sistema, uma revolução”, salienta.

O médico aborda também as parcerias público-privadas na Saúde, observando que a iniciativa privada tem maior capacidade na captação e mobilização de recursos, em relação ao sistema público de saúde. Vecina defende que se busquem melhores instrumentos de relacionamento com a iniciativa privada. “Criminalizamos a iniciativa privada na saúde pública, quando hoje 60% da rede hospitalar brasileira é privada. Temos que ter bom senso e pensar não na financeirização dos serviços de saúde, mas em contratualização e auditoria”, diz.

Vecina destaca, ainda, a importância da produção nacional para, em emergências sanitárias como a que vivemos na pandemia de Covid-19, termos a capacidade de atender às necessidades da sociedade brasileira. “Num país que tem um sistema de saúde universal, ter um consumo de 210 milhões de habitantes significa ter escala para produção de muita coisa”, avalia, concluindo que é preciso pensar em política industrial de ciência, tecnologia e inovação. “Dessa relação entre ciência, tecnologia e inovação vem a capacidade de produzir e gerar mais empregos”.

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