Por Caio Belandi | IBGE
No segundo trimestre de 2022, o IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde, levou a campo pela primeira vez o módulo da PNAD Contínua sobre a Atenção Primária à Saúde Infantil no Brasil. O questionário foi aplicado aos responsáveis pela saúde das crianças menores de 13 anos de idade que tiveram pelo menos um atendimento na Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Saúde Familiar, popularmente chamados de “posto de saúde”, “centro de saúde”, “unidade de saúde da família” etc.
A pesquisa mostrou que 87,1% das crianças menores de 13 anos de idade tinham o pai ou a mãe como responsável pelos cuidados da saúde. Os responsáveis entrevistados atribuíram uma nota ao serviço, com base em algum atendimento recebido nessas unidades nos 12 meses anteriores à entrevista.
“A pesquisa foi realizada em conjunto com o Ministério da Saúde, utilizando instrumentos de avaliação da atenção primária à saúde, considerada a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma Adriana Beringuy, coordenadora das Pesquisas por Amostra de Domicílios Nessa primeira abordagem, as pessoas que buscam os serviços de saúde são cadastradas e acompanhadas. No Brasil, a Atenção Primária à Saúde é desenvolvida em todos os municípios.
O módulo de Atenção Primária à Saúde da PNAD Contínua é uma versão do Primary Care Assessment Tool (PCATool), instrumento internacional de pesquisa, utilizado por diversos países e validado pelo Ministério da Saúde no Brasil. Neste módulo, são avaliados alguns atributos da Atenção Primária à Saúde para pacientes menores de 13 anos de idade, com escores de avaliação variando de 0 a 10.
“Essa escala varia de 0 a 10 e um escore igual ou acima de 6,6 aponta que os serviços ofertados estão orientados para atender com qualidade, de acordo com os protocolos da Atenção Primária à Saúde”, esclarece Beringuy. A PNAD Contínua utilizou o “escore geral do PCATool” como uma média dos demais atributos.
Os atributos essenciais avaliados por este módulo da PNAD Contínua foram: facilidade de acesso no primeiro contato; longitudinalidade, isto é, regularidade do serviço de saúde ao longo do tempo e relação humanizada entre equipe de saúde e pacientes; coordenação, ou seja, continuidade da atenção, com reconhecimento dos problemas que requerem acompanhamento constante; e integralidade, atendendo às necessidades mais comuns da população, incluindo a oferta de planejamento familiar ou métodos anticoncepcionais, suplementação nutricional, aconselhamento psicológico ou de saúde mental. Já os atributos derivados avaliados pela pesquisa foram: orientação familiar e orientação comunitária.
33,0% dos responsáveis deram notas 7 e 8 aos serviços de Atenção Primária à Saúde
Para 33% dos responsáveis a nota atribuída aos serviços de saúde recebido seria 7 ou 8, enquanto 19,4% deram de 0 a 6, considerando abaixo da recomendação. Dentro desse resultado, foi atribuído um indicador conhecido como Net Promoter Score (NPS). “O cálculo do indicador pressupõe valores entre -100 e +100 e quanto maior o resultado, mais positiva é avaliação”, explica Beringuy.
Os resultados indicaram que os cuidadores das crianças que acessavam o SUS avaliaram-no positivamente (+28), com índices regionais similares. Entre as Unidades da Federação, também notas semelhantes, com somente duas pontuando abaixo de 20 (Amapá com 17 e Rio Grande do Norte com 13) e apenas uma acima de 40 (Rio Grande do Sul, com 41). Em todos os recortes geográficos, o indicador de satisfação da utilização dos serviços de saúde nas UBS e USF ficou entre 0 e 50, sinalizando uma avaliação positiva e, contudo, uma necessidade de aperfeiçoamento.
Foram avaliados os fatores que os responsáveis levavam em consideração em sua avaliação. Os principais foram a atuação dos profissionais (35,7%) e a forma que esses profissionais acolheram a criança (32,4%). Juntos, os dois quesitos somaram mais de dois terços dos motivos citados. Outro fator lembrado foi o tempo de atendimento, com 23,2%.
Escore Geral da Atenção Primária à Saúde infantil ficou abaixo do padrão-mínimo em todas as UFs
A PNAD também investigou o atendimento recebido pelas 4,1 milhões de crianças com até 13 anos que realizaram ao menos duas consultas com o mesmo médico em Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Saúde da Família.
Em 2022, esse escore foi 5,7. O Sul obteve o maior (6,0) e o Norte, o menor (5,4). Entre as UFs, nenhuma atingiu o resultado considerado padrão-mínimo de qualidade (6,6), com Mato Grosso (6,4) chegando mais perto e Amazonas (4,9) e Rondônia (4,8) com os menores.
Maioria procurou atendimento público nas unidades básicas de saúde
A pesquisa também mostra que cerca de 75% das crianças de menos de 13 anos do país (28,4 milhões) realizaram uma consulta médica nos últimos 12 meses anteriores à data da entrevista, proporção que foi menor no Norte (66,6%) e no Nordeste (71,8%).
No país, a maior parte (46,1%) buscou por atendimento em Unidades Básicas ou Unidades de Saúde da Família, índice que foi maior no Norte (58,1%) e no Nordeste (51,1%). Já 29,3% procuraram atendimentos particulares (consultórios, clínicas e hospitais), com diferenças regionais marcantes no Norte (20,2%) e no Sudeste (36,5%). Por fim, 20,3% compareceram às unidades de pronto-atendimento de hospitais públicos ou ligados às forças armadas.
No Sul, problemas respiratórios ou de garganta lideram motivo de consultas
Entre os motivos que levaram as crianças à consulta, o principal foi rotina, como revisão, check-up, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, que correspondeu a 39,1%. Em seguida, problemas respiratórios ou de garganta, como gripe, sinusite, asma, bronquite, etc., com 30,9%. Com 30%, outros motivos, tais como febre, diarreia, vômito, acidentes, fraturas, entre outros.
Nas regiões Norte e o Sudeste, a busca por consulta de rotina aparece com índices acima da média nacional, com 43% e 42,9%, respectivamente. Também chama a atenção o resultado no Sul, onde problemas respiratórios foram o principal motivo da consulta, com 38,9%. “A própria característica do clima na região, mais fria, pode ajudar a explicar. Crianças são mais impactadas com sintomas respiratórios associados às temperaturas mais baixas na Região Sul do País”, afirma Beringuy.