Eugênio Vilaça Mendes

A COVID 19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, afetou todos os aspectos da vida humana, desorganizando os sistemas de atenção à saúde do mundo inteiro e provocando uma crise econômica e social sem precedentes e de dimensões planetárias.

A rapidez com que se alastrou globalmente, o seu potencial de contaminação, o baixo conhecimento do vírus e de sua fisiopatologia, a insuficiência das evidências sobre abordagens farmacológicas e a inexistência de vacinas eficazes agregaram complexidade e incertezas às estratégias de seu enfrentamento.

Uma Secretária Municipal de Saúde verbalizou essa situação usando uma metáfora: “Sinto-me pilotando um navio no meio de uma tempestade, sem ver nada ao redor e sem uma carta de navegação. Vou tomando decisões em função do avanço do vírus” (HUÇULAK, 2020).

O cenário se torna mais crítico quando se examinam outras variáveis como as interpretações diferenciadas sobre a efetividade das medidas não farmacológicas; a politização de questões técnicas que deveriam ser estabelecidas com base em evidências científicas; a fragilidade da coordenação nacional da pandemia; a concomitância de uma crise sanitária com uma forte crise econômica e social que lhe é consequente; e a polarização entre a saúde (reduzir a incidência da doença e das mortes provocadas) e a economia (proteger as empresas e os empregos, garantir renda para grupos mais vulneráveis e estimular a economia).

Além disso, o ambiente da pandemia implica respostas que sejam tomadas de forma rápida em função do avanço avassalador do vírus. Nesse aspecto manifesta-se um claro desequilíbrio entre o avanço da COVID-19 que se dá de forma exponencial e as capacidades de respostas das organizações que se manifestam em escala aritmética.

Yuval Harari, historiador israelense, manifesta-se sobre o tempo da COVID 19: “A humanidade enfrenta uma crise global. Talvez a maior crise de nossa geração. Sim, passará. A humanidade sobreviverá, a maioria de nós seguiremos vivos, porém habitaremos um mundo diferente. Muitas medidas de emergência de curto prazo se tornarão em hábitos de vida. Essa é a natureza das emergências. Os processos históricos avançam rapidamente.

Decisões que em tempos normais levam anos de deliberação se aprovam em questões de horas. Entram em serviço tecnologias imaturas e inclusive perigosas, porque os riscos de não fazer nada são maiores. Países inteiros servem como cobaias em experimentos sociais de grande escala. O que acontece quando todos trabalham em casa e se comunicam somente à distância? O que acontece quando escolas e universidades operam apenas online? Em tempos normais, governos, empresas e juntas educativas nunca aceitariam realizar tais experimentos. Porém, esses não são tempos normais” (HARARI, 2020).

Por tudo isso, o período de pós-pandemia tem sido considerado como um tempo de um “novo normal”, ainda que não se tenha definido com precisão o que isso possa significar.

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