Patty Fidelis de Almeida, Elisete Casotti, Rafaela Fidelis Lima Silvério | Cadernos de Saúde Pública
O objetivo deste trabalho é analisar as trajetórias assistenciais, relativas ao uso e acesso às redes de atenção à saúde (RAS), de usuários diagnosticados, internados e em reabilitação decorrente da COVID-19. Foi realizado estudo avaliativo, qualitativo, com base em entrevistas com usuários, no Município de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. As trajetórias assistenciais, a partir da análise temática, foram reconstituídas em três momentos que expressam as experiências com a rede de saúde e apoio durante a pandemia: medidas de prevenção, apoio e diagnóstico; a experiência da internação; cuidados, reabilitação e apoio pós-COVID-19. Os resultados apontam que a principal fonte de informação sobre a doença foram os telejornais; as medidas preventivas de higienização, as mais adotadas; e a família foi a principal rede de apoio. Não houve tempos de espera para internação no hospital municipal de referência. A internação foi muito bem avaliada em função do acolhimento, cuidado multiprofissional, visitas virtuais e contato diário do médico com os familiares. Identificou-se, porém, “vácuo assistencial” pós-alta, com ausência de seguimento pela atenção primária à saúde (APS) e demais serviços públicos. Foi frequente a busca espontânea por planos populares e pagamento direto para acesso aos serviços especializados no pós-COVID-19, até a implantação do serviço de reabilitação. Em síntese, trajetórias assistenciais solitárias e descontínuas de indivíduos e famílias revelam diversos desafios ao sistema de saúde, entre os quais a garantia de acesso e coordenação dos cuidados pela APS, ampliação da oferta de serviços públicos especializados e de reabilitação em redes, alinhados aos princípios do cuidado humanizado, além da manutenção das medidas de apoio social.
INTRODUÇÃO
A pandemia pelo SARS-CoV-2 representa para a América Latina e Caribe um desafio sem precedentes. Embora abrigue 8% da população mundial, a região reportou 17% dos casos de COVID-19 e 29% das mortes confirmadas, além de uma recessão econômica que se expressa na queda de 6,7% do produto interno bruto (PIB) em 2020, estimativa de perda de 39 milhões de empregos e de 20 milhões de pessoas convertidas à situação de extrema pobreza, configurando um cenário de tripla crise – sanitária, econômica e social 1. No Brasil, até julho de 2022, foram registrados mais de 678 mil óbitos e 33,7 milhões de pessoas infectadas 2. A ausência de ações coordenadas entre as esferas governamentais e a posição deliberada do governo nacional, aliada a atos normativos que criaram obstáculos às respostas locais e incentivaram a desinformação, explicam, em parte, a gravidade do cenário sanitário brasileiro 3,4, ao qual se somam recessão econômica e aumento expressivo da pobreza 5.
As formas graves da doença acometeram grupos populacionais com idade mais avançada, presença de comorbidades crônicas e alto índice de massa corporal (IMC) 6,7. Entretanto, a distribuição dos casos no Brasil se mostrou muito desigual, concentrando-se duas vezes mais no quintil mais pobre da população, quando comparado ao mais rico 8. Tal quadro pode ser caracterizado como uma situação de sindemia 9, na qual as iniquidades sociais contribuem para o agravamento das consequências da COVID-19, como observado, por exemplo, nos estados das regiões Norte e Nordeste, que possuem estruturas de saúde mais frágeis 10. Esse contingente populacional vulnerabilizado socioeconomicamente e com uma carga de doenças pré-existentes tem o sistema público como recurso de primeira ordem para os cuidados em saúde 11.
Uma resposta integral a um problema sanitário da ordem da COVID-19 requer ações simultâneas e coordenadas em diferentes níveis de atenção, não havendo dissenso quanto à necessidade dos sistemas de saúde proverem ações de recuperação dos efeitos da COVID longa 12. No país, foi somente em dezembro de 2021 que o Ministério da Saúde aprovou mudança na tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo pagamento por reabilitação de pacientes pós-COVID-19 e reabilitação funcional de pacientes pós-COVID-19, por meio do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação 13. Frente ao vácuo de resposta do gestor federal, municípios e estados buscaram organizar serviços e ações para enfrentamento dos efeitos da COVID-19, entre os quais o tratamento e a reabilitação 14.
As repercussões para a continuidade dos cuidados aos agravos crônicos como diabetes, hipertensão, câncer, entre outros, são sentidas de forma diferenciada durante emergências, com impacto ampliado em países de baixa e média renda, cujos sistemas de saúde apresentam maiores dificuldades para conciliar ações direcionadas a condições agudas e manutenção da prevenção e controle das doenças não transmissíveis 15. No caso da COVID-19, a necessidade de testagem, rastreio, monitoramento de casos e contatos e, posteriormente, vacinação aumentou o “estresse” dos sistemas de saúde, ocasionando medidas como a suspensão de consultas programadas, visitas presenciais na atenção primária à saúde (APS), problemas de comunicação entre autoridades sanitárias, prestadores e população em diversos cenários 16,17.
Tais evidências sinalizam que, frente a emergências sanitárias, são necessários planos de contingência direcionados ao sistema de saúde de forma global – e não apenas ao agente infeccioso 17 – que incorporem medidas para a (re)organização das ações e serviços voltados à manutenção dos cuidados essenciais e resposta às necessidades decorrentes da situação emergencial. Nesta perspectiva, o presente artigo tem como objetivo analisar as trajetórias assistenciais, relativas ao uso e acesso aos diversos serviços das redes de atenção à saúde (RAS), de usuários diagnosticados que passaram por internação e se encontravam em processo de reabilitação decorrentes da COVID-19. Busca-se identificar barreiras que se interpõem entre usuários e sistema de saúde, estratégias adotadas, possíveis inovações e aprendizados que informem políticas, organização e práticas capazes de responder às necessidades emergentes da pandemia e das sucessivas “ondas” de contaminação e aos persistentes obstáculos às trajetórias assistenciais no SUS.
METODOLOGIA
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo avaliativo com abordagem qualitativa para produção das trajetórias assistenciais de usuários que tiveram a experiência de diagnóstico, internação e reabilitação decorrentes da COVID-19 no Município de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. As trajetórias assistenciais são utilizadas para a avaliação da organização e prestação de serviços de saúde com base nas estratégias e caminhos traçados pelos usuários na busca por cuidados 18. Representam práticas avaliativas que, fundamentadas nas vivências de adoecimento, permitem identificar constrangimentos, facilidades no uso e acesso às RAS e qualidade do cuidado 19, o que se justifica no caso de uma condição de saúde – COVID-19 – cujos padrões de intervenção e de avaliação carecem de estudos e produção de evidências.
Coleta de dados e participantes da pesquisa
O estudo foi realizado em Niterói, município de 515 mil habitantes, sede da Região de Saúde Metropolitana II, do Estado do Rio de Janeiro. Faz parte de uma investigação mais ampla, financiada por meio de edital público em consonância com o Plano Estratégico Municipal em sua vertente Gestão do Cuidado e Redes de Atenção à Saúde. Os dados foram coletados no serviço de reabilitação para pacientes pós-COVID-19, inaugurado em agosto de 2021, localizado no Hospital Municipal Oceânico Gilson Cantarino (HMON), que, no período mais agudo da pandemia, foi destinado exclusivamente ao tratamento dos casos graves da doença 20. A unidade foi selecionada por ser o serviço municipal de referência para reabilitação, apresentar fluxo assistencial definido para a regulação e, no momento da coleta dos dados, concentrar usuários que haviam passado por internação.
Para a construção das trajetórias assistenciais, foram realizadas 27 entrevistas presenciais, entre setembro e dezembro de 2021. A inclusão dos participantes atendeu aos seguintes critérios: usuários diagnosticados com COVID-19, que passaram por internação e encontravam-se em processo de reabilitação – ou seja, tiveram abrangente percurso pelas RAS e, por isso, poderiam informar êxitos e desafios ao longo do continuum assistencial para a produção das trajetórias assistenciais. Uma vez que todos atendiam aos critérios para inclusão no estudo, a seleção foi baseada na conveniência; ou seja, todos os usuários em atendimento no serviço de reabilitação poderiam ser convidados a participar. Foram excluídos aqueles com quadro físico ou mental que impossibilitasse a condução da entrevista. Os participantes foram abordados na sala de espera do serviço de reabilitação e as entrevistas, conduzidas no local, em espaço amplo e adequado. Como os atendimentos eram realizados com hora marcada e o número de usuários em espera era pequeno, foi possível garantir distanciamento e privacidade aos participantes. As entrevistas foram realizadas pelas autoras e guiadas por roteiro semiestruturado, organizado de forma a prospectar dados da identificação e caracterização sociodemográfica, seguidos pelas vivências pandêmicas na interação com a rede de apoio social e de serviços de saúde, cujos componentes e dimensões estão descritos no Quadro 1. O roteiro passou por etapa de teste piloto, com realização de entrevista para ajuste de conteúdo e linguagem, não incluída na análise.
Buscou-se, de alguma forma, controlar a esperada interação entre pesquisador e participantes em estudos desta natureza por meio da definição prévia de dimensões e componentes de interesse em acordo aos objetivos da pesquisa, ainda que variáveis contextuais não previstas tenham sido consideradas. Como a maior parte dos usuários compareciam acompanhados (cônjuges e/ou filhos), em muitas entrevistas houve interação espontânea do familiar, cujas falas foram transcritas e incorporadas no corpus geral da análise de conteúdo, uma vez que agregavam memórias complementares à descrição da trajetórias assistenciais realizada pelo usuário. A duração média das gravações foi de 40 minutos e todos os áudios foram transcritos na íntegra. O fechamento amostral foi realizado a partir de critérios de saturação teórica 21, ou seja, a suspensão de inclusão de novos participantes ocorreu quando os dados obtidos passaram a apresentar, na avaliação das pesquisadoras, uma certa repetição e convergência na produção das trajetórias assistenciais. Tal análise foi realizada de forma contínua, desde o início da coleta, tendo em vista cada um dos componentes e dimensões abordados no roteiro de entrevistas.
Análise dos resultados
Foi realizada análise temática do conteúdo das entrevistas para identificação e descrição de padrões ou temas, seguindo critérios para garantia da qualidade, como codificação completa e inclusiva de cada entrevista, seleção de excertos relevantes agrupados em temas e análise interpretativa dos dados 22.
A seguir, a partir da eleição da COVID-19, buscou-se reconstituir as trajetórias assistenciais com base em três momentos que expressam as vivências e o percurso dos usuários pelas RAS: (a) medidas de prevenção, apoio e diagnóstico da COVID-19; (b) experiência da internação hospitalar; e (c) cuidados, reabilitação e apoio pós-COVID-19. Durante os três momentos, foram identificados componentes referentes às características do apoio social, acesso, integralidade, continuidade assistencial e satisfação com o cuidado recebido. O Quadro 1 apresenta as três dimensões e componentes produzidos com base em estudos sobre o tema 19,23,24 (e que inicialmente guiaram o roteiro de entrevistas) e emergentes dos dados empíricos, a partir dos quais foi produzida a interpretação e apresentação dos resultados.
Aspectos éticos
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de Ciências Humanas da Universidade Federal Fluminense (parecer nº 4.456.756). Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram identificados por números, conforme ordem de realização das entrevistas, para garantia do anonimato.
RESULTADOS
Foram entrevistados 27 participantes, sendo a maioria composta por pessoas: acima de 60 anos (18); com renda familiar de até 2 salários mínimos (17); que recebiam algum tipo de benefício social (17); que tinham uma unidade da Estratégia Saúde da Família (ESF) como primeiro contato (14); se declararam negros ou pardos (15); e viviam com o cônjuge (17).
Oito participantes relataram ter algum plano de saúde, incluindo planos populares com pagamento de mensalidades e sistema de coparticipação em consultas ambulatoriais e exames clínicos. Em relação aos hábitos, quase a totalidade não era fumante e não fazia uso de bebida alcóolica Tabela 1.
Medidas de prevenção, apoio e diagnóstico da COVID-19: dos telejornais ao apoio familiar
As principais medidas preventivas adotadas relacionaram-se à higienização de alimentos, das roupas e do corpo. Foram frequentes os relatos de banhos e lavagem de todo o vestuário após alguma saída, assim como “banhos de álcool em gel” – medidas que ainda se mantinham. Poucos usuários referiram distribuição de máscaras e álcool em gel por unidades de saúde ou outros órgãos públicos.
A principal fonte de informação sobre COVID-19 era a televisão, principalmente os telejornais, referidos por todos os usuários. Foi muito frequente o relato de que se assistia muito à televisão, em consequência das medidas de isolamento social Quadro 2. Um dos entrevistados apontou divergência entre as informações transmitidas por diferentes emissoras: “Essa televisão… a Globo fala um troço, a Record fala outro. Nunca bate certo, entendeu? Aí fica naquela dúvida…” (E9).
A informação sobre os sintomas foi considerada importante pois incentivava adoção de ações preventivas, como manter o isolamento e permanecer no domicílio. Os participantes se consideravam bem-informados sobre a COVID-19.
Os familiares mais próximos (cônjuge, filhos, netos) eram a única rede de apoio para a realização de atividades cotidianas e externas, com vistas a evitar o contato com ambientes de aglomeração como supermercados e farmácias Quadro 2. Apenas uma usuária recebeu cestas básicas de um programa de renda municipal e a quase totalidade (26) não referiu qualquer tipo de mobilização social nos bairros para auxílio durante a pandemia. O apoio familiar foi importante também para a busca de cuidados frente ao aparecimento dos sintomas da COVID-19.
A maioria dos participantes relatou adesão às medidas de isolamento social, incluindo a interrupção das atividades físicas, de lazer e coletivas. A grande maioria não praticava exercício no momento da entrevista, porém dez participantes relataram ter interrompido a prática em decorrência da doença Tabela 1.
Entre os 27 participantes, 17 realizaram o diagnóstico da COVID-19 em unidades hospitalares, 4 em unidades de pronto-atendimento (UPA), 4 em policlínicas de especialidades com pronto-atendimento, 1 em uma unidade básica de saúde (UBS) e 1 não conseguiu identificar a natureza do serviço.
Após o diagnóstico, 24 participantes foram transferidos para o HMON, em geral, no mesmo dia. O fato de grande parte estar na faixa etária de maior risco e relatar a presença de comorbidades aumentava a preocupação e amplificava o sofrimento psíquico. Particularmente dramático foi o relato dos casais de idosos que viviam sozinhos, quando um dos dois adoecia Quadro 2.
Experiência da internação hospitalar: do medo à percepção de ser cuidado
Não houve relatos de dificuldades para acesso à internação na unidade de referência municipal, nem espera ou peregrinação. Entretanto, após indicação de internação, o principal receio se referiu à possibilidade de intubação, associada ao medo da morte e de não ter contato com a família Quadro 3.
Apesar do receio inicial, foi unânime a satisfação com o atendimento durante a internação, sendo destacado o acolhimento, o cuidado realizado pela equipe multiprofissional e a cortesia de todos os profissionais – da recepção à limpeza e ao corpo clínico. Mesmo sendo uma situação extrema, do ponto de vista clínico, parte expressiva das narrativas valorizou tais atributos, o que produziu sensação de segurança quanto ao tratamento Quadro 3.
As avaliações positivas sobre o cuidado prestado no HMON tinham como parâmetro comparativo serviços privados e a percepção de que tal padrão não se repetia em outras unidades públicas de saúde Quadro 3.
Outra ação muito valorizada se referiu ao processo sistemático de comunicação com os familiares. Todos os entrevistados relataram realização, por meio de plataforma de videoconferência, de visitas virtuais à beira leito, coordenadas pela assistente social e psicóloga. Este contato foi de grande valor não apenas para o paciente, alguns dos quais se emocionavam ao relatá-los, mas também para os familiares que ficavam em casa, muitos também idosos, em isolamento social Quadro 3.
Além das visitas virtuais, os médicos telefonavam para o familiar responsável para informar sobre o estado de saúde ou tratamento. A comunicação “sincera” por parte dos médicos foi valorizada por participantes e familiares. O familiar de referência tinha o contato dos profissionais e poderia solicitar informações complementares Quadro 3.
Outro aspecto valorizado foi a entrega do relatório pós-alta, que continha o histórico da internação e plano de cuidados a serem iniciados ou seguidos em outros pontos da RAS Quadro 3.
Em função da qualidade do atendimento, alguns entrevistados sugeriram a manutenção da unidade hospitalar para todo tipo de assistência, na defesa de que a população deveria continuar a ter acesso ao cuidado humanizado: “Isso daqui não precisa ser só para COVID, mas que seja para outras coisas que o povo precisar” (E19).
Cuidados, reabilitação e apoio pós-COVID-19: e a vida continua
Muitas foram as sequelas relatadas pós-internação, sendo as mais frequentes: fraqueza generalizada, sobretudo nas pernas; cansaço; falta de equilíbrio e de apetite; inchaço nas pernas; tosse persistente; problemas cardíacos e respiratórios; diarreia; e dificuldades para dormir Quadro 4.
Um aspecto associado ao pós-alta refere-se à sobrecarga dos familiares. As sequelas pós-COVID-19 exigiam mais cuidados por parte dos responsáveis, que se sentiam esgotados e, ao mesmo tempo, deixavam em segundo plano o cuidado de si. As sequelas aumentavam o sofrimento psíquico dos pacientes pelas limitações físicas e pela sobrecarga causada aos familiares Quadro 4.
Enquanto o acesso à internação transcorreu sem barreiras e com qualidade, o seguimento pós-alta foi considerado insuficiente/inexistente por todos os entrevistados, pela dificuldade em obtê-lo na rede pública, seja para os novos problemas e necessidade de reabilitação, seja para o acompanhamento das comorbidades pré-existentes Quadro 4.
Expressivos foram os relatos de automedicação e busca por consultas e exames complementares pós-alta, em função da indicação do relatório médico, mas também por conta própria, por receio de sequelas da doença. Muitos usuários referiram ter utilizado serviços privados para consultas com pneumologista e para realização de exames de imagem, alegando os longos tempos de espera no SUS Quadro 4.
Dos 27 entrevistados, somente 14 relataram ser adscritos a equipes da ESF, porém com muita indefinição quanto a reconhecê-las como serviço de uso regular. Os planos populares foram referidos por usuários e familiares. As dificuldades de acesso à rede pública, tanto para consultas na APS, quanto para procedimentos especializados, foram os principais motivos, mesmo antes da pandemia, para garantir acompanhamento regular e realização de check-up. A necessidade de copagamentos, além da mensalidade dos planos populares, fez com que alguns usuários considerassem mais vantajoso pesquisar e pagar pelos procedimentos em serviços privados Quadro 4.
Havia uma sensação de “vácuo assistencial” pós-alta, até a abertura do serviço de reabilitação no HMON, em agosto de 2021. Segundo alguns usuários, os profissionais de saúde (APS e policlínicas) relatavam não ter preparo para tratar efeitos do pós-COVID-19 Quadro 4.
A grande maioria dos entrevistados foi contactado pelo próprio hospital para avaliação da necessidade de reabilitação, pois haviam passado por internação na unidade. Outras formas de acesso foram relatadas: busca direta de usuários que ficaram sabendo do serviço e fizeram contato diretamente e casos de encaminhamento por unidade de APS ou policlínica, via contato pessoal com funcionário do hospital. Um dos usuários avaliou que, para quem não passou por internação no HMON, o acesso à reabilitação seria mais difícil, pois o fluxo de referência não era conhecido e os demais serviços das RAS ainda não realizavam o encaminhamento.
Assim como no caso da internação, as avaliações sobre a reabilitação eram bastante positivas. A implantação do serviço deu respostas às dificuldades para a busca de cuidados nas RAS e, segundo os relatos, manteve o padrão de qualidade e humanização da internação. Os entrevistados valorizavam a consulta com o clínico geral para uma avaliação global e, na sequência, atendimento por equipe multiprofissional, que incluía fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta. Pelas dificuldades de acesso aos cuidados pós-COVID-19 na rede pública, havia expectativa de que o serviço de reabilitação absorvesse todas as demandas em saúde Quadro 4.
DISCUSSÃO
Neste estudo, a utilização de uma condição nova e desafiadora – a COVID-19 – amplificou o olhar sobre os pontos de limitações nas trajetórias assistenciais, imprimindo um sentido de urgência na direção da garantia de acesso e integração dos cuidados em saúde 1.
A maioria dos participantes eram idosos com comorbidades, grupo mais suscetível a formas mais graves da doença e às desigualdades econômicas, raciais e de gênero, que incidem nas experiências de envelhecimento 25,26. Ainda assim, poucos foram os relatos de acompanhamento longitudinal por algum serviço do SUS durante o período pandêmico, bem como redes de apoio, sendo a família o único ponto de suporte.
Nas trajetórias assistenciais identificou-se a higiene das mãos entre as principais medidas de prevenção à COVID-19, prática com maior adesão no país, segundo outros estudos, principalmente entre os mais idosos 27. Embora o uso de máscaras tenha sido considerado importante, destacou-se a menção à lavagem e higienização dos alimentos, das roupas e corpos, medidas veiculadas com maior ênfase nos momentos iniciais da pandemia.
Enquanto maior atenção é dada às mídias sociais, os achados deste estudo revelaram a centralidade dos veículos televisivos como principal dispositivo de acesso às informações sobre COVID-19, com destaque para os telejornais, que parecem ter ampla capilaridade entre a população idosa, como encontrado neste estudo. A necessária ocupação das mídias tradicionais pelas autoridades sanitárias constitui uma lição aprendida, a ser mais bem compreendida no que se refere à forma, dosagem da exposição e conteúdo 28.
Os resultados indicam que, em relação aos diagnósticos de COVID-19, a maioria foi realizada em unidades hospitalares do SUS, sem relatos importantes de dificuldade de acesso. Contudo, cabe ressaltar que os participantes passaram por internação hospitalar, indicando casos mais graves se comparados à população geral que buscou testagem em diversos tipos de serviços, públicos e privados 29.
Em que pese a insuficiência de leitos, principalmente para cuidados intensivos à COVID-19, em diversos cenários 30,31, nas trajetórias assistenciais não foram identificadas dificuldades de vaga para internação em função da criação de unidade própria municipal de referência. Ainda assim, este achado deve ser analisado com cautela, uma vez que os participantes foram recrutados no serviço de reabilitação que funciona no próprio hospital.
Os sentimentos iniciais relativos ao medo da internação e intubação foram amenizados por características do cuidado na unidade hospitalar, com avaliações positivas contundentes, alusivas a todos os trabalhadores. Além da estrutura física, cordialidade e respeito contribuem para a percepção de acolhimento e são valorados por pacientes que passaram por tratamento relacionado à COVID-19 32, como também pôde ser constatado neste estudo. Ainda assim, o padrão de excelência para fins de comparação foram unidades hospitalares privadas com grande repercussão midiática – por serem serviços de busca regular de autoridades públicas, corroborando a identificação dos serviços do SUS como de baixa qualidade.
O adoecimento pela COVID-19 evoca a experiência de corpos tóxicos e perigosos pela necessidade de isolamento e negação de visitas durante a internação 33. Entre os usuários internados no Estado do Rio de Janeiro, 64,7% reportaram ter recebido notícias ou algum contato com a família 32. Neste estudo, as visitas virtuais à beira-leito foram confirmadas por todos os participantes, sendo este mais um aspecto considerado relevante para a alta satisfação com o serviço hospitalar. Ter acesso a informações claras se relaciona à maior percepção de segurança e satisfação com o tratamento 34. Assim, tanto os contatos telefônicos quanto visitas virtuais são tecnologias “leve-duras” que deveriam ser adotadas de forma ampla, uma vez que distâncias, gastos com transporte, falta de tempo são fatores que podem dificultar o acompanhamento de usuários internados.
A institucionalização do relatório pós-alta com o plano terapêutico é outro aspecto que colabora para a continuidade dos cuidados e para evitar reinternações 35, embora, neste estudo, não tenha ocorrido seguimento pelos demais serviços da rede.
No terceiro momento das trajetórias assistenciais, representado pelas necessidades pós-alta, expressaram-se as maiores dificuldades de uso e acesso aos serviços de saúde. As transições entre ambientes de cuidados podem ser disruptivas para pacientes e familiares, com efeitos negativos em diferentes âmbitos da vida, sobretudo em idosos acometidos pelos efeitos pós-COVID-19 36. A COVID longa é uma condição complexa, de natureza, frequência e etiologia ainda indefinidas 37. Nesse sentido, para além da definição do manejo, reabilitação e estudos clínicos para melhoria dos resultados a longo prazo 37, são necessárias investigações que aprofundem a experiência de uso dos serviços de saúde em decorrência das sequelas da COVID-19, principalmente na perspectiva dos usuários.
O cuidado à saúde física e mental das pessoas acometidas pela COVID-19 e seus familiares seguirá como um desafio aos serviços de saúde 38 pela postergação com os cuidados regulares, intensificada pelo isolamento social. No Brasil, estudos mostram que indivíduos com multimorbidade saíram menos de casa, com possíveis efeitos na agudização de problemas crônicos 25. A necessidade de intensificação das ações de vigilância no território, com um olhar especial para o paciente pós-COVID-19 e seu núcleo familiar, exigirá mais do que nunca os enfoques familiar e comunitário da ESF, enfraquecidos pelas novas diretrizes e financiamento da política nacional 39, que privilegiam, por exemplo, outros modelos de conformação de equipes de APS mais focados em intervenções clínico-individuais.
Neste estudo, prevaleceu a percepção de “vácuo assistencial” pós-alta. A experiência de abandono entre a alta hospitalar e o início da reabilitação representou uma ruptura nas trajetórias assistenciais. A retaguarda dos serviços de APS e especializados do SUS se mostrou ausente ou inacessível, incapaz de atender às demandas por reabilitação e às condições pré-existentes. Frente às lacunas da rede pública, abre-se mais um nicho para ocupação dos serviços privados de saúde no seguimento dos planos populares ou “cartões de desconto”, não regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) 40. Parte dos usuários e familiares buscaram, de forma autônoma e sem qualquer garantia de qualidade, consultas especializadas para tratar novos e velhos problemas de saúde, amplificando a construção de trajetórias assistenciais solitárias, fragmentadas e privatizadas.
As narrativas apontaram sobrevalorização da atenção hospitalar e especializada como modelo ideal de acompanhamento regular dos problemas em saúde, percepção essa que pode ter sido exacerbada pela ênfase nos cuidados hospitalares como principal estratégia de enfrentamento da COVID-19 41,42. Nessa mesma direção, a necessidade de identificar e tratar sequelas parece ter ampliado a confiança em especialistas focais. Em sentido oposto, a rede pública se mostrou pouco permeável às demandas pós-internação, o que, no caso estudado, expressou-se pela dificuldade de acesso às APS e pelos longos tempos de espera para a atenção especializada.
Tais resultados expressam a necessidade premente de fortalecer a APS. Estudos mostram que entre usuários com acessibilidade ao generalista durante a pandemia, mesmo por meio remoto, havia percepção de continuidade dos cuidados 17. As experiências de confiança e familiaridade parecem ser determinantes na decisão de optar pelo cuidado regular junto ao médico de família ao invés de buscar tratamento com especialistas desconhecidos 17. Nesse sentido, a pandemia de COVID-19 reforça a necessidade de cuidados primários de qualidade, e não o contrário. Segundo a Comissão de Saúde Global do jornal The Lancet43, o financiamento público, elemento-chave dos sistemas de saúde, é insuficiente e alimenta o ciclo vicioso que mina a credibilidade e qualidade da APS e incentiva a busca por alternativas assistenciais.
Como limitações do estudo, a grande maioria dos participantes foi captada no serviço de internação, no qual passavam pela reabilitação. Logo, são experiências que podem não refletir a situação encontrada entre usuários internados em outras unidades hospitalares ou que ficaram com sequelas sem ter tido necessidade de internação. Além disso, a perspectiva de gestores e profissionais não foi considerada. Ainda assim, trata-se de estudo inédito que reconstrói as trajetórias assistenciais de usuários e familiares que passaram por intensas e extensas experiências decorrentes da COVID-19 e que permitem tecer análises acerca de características do funcionamento do sistema local de saúde. Para futuras investigações, indica-se a necessária produção de um modelo lógico para planejamento e avaliação das ações de prevenção, apoio social, tratamento e reabilitação da COVID-19, ancorado em fontes de informação diversas e validado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As trajetórias assistenciais, solitárias e descontínuas, revelam diversas barreiras para o cuidado de indivíduos e famílias, que representam campos passíveis de intervenção e aperfeiçoamento para a gestão deste e outros sistemas locais de saúde, tanto no que se refere à organização quanto às práticas. Nesta perspectiva, destacam-se as necessidades: (a) de ampliação das estruturas de apoio social para minimizar a sobrecarga das famílias; (b) de comunicação em saúde protagonizada pelas autoridades sanitárias em mídias diversas; e (c) de medidas para retomada dos cuidados às condições pré-existentes à COVID-19 e para o enfrentamento das fragilidades da APS, de forma que esta possa cumprir a missão de primeiro contato acessível e de coordenadora do cuidado, apoiada por serviços públicos especializados e de reabilitação em redes, alinhados aos princípios do cuidado humanizado. A percepção de “vácuo assistencial” no pós-alta teve como um de seus efeitos a busca por serviços na iniciativa privada, o que compromete os orçamentos familiares, amplifica a fragmentação e a procura direta por especialistas focais.
Entre os pontos positivos, destacou-se a percepção de qualidade do atendimento hospitalar e de reabilitação relacionada, principalmente, à natureza do vínculo e acolhimento. Esse achado é muito significativo pois está inscrito em uma situação na qual os profissionais estavam submetidos à sobrecarga de trabalho e alta tensão cotidiana, o que não impediu que usuário e familiares fossem o centro do cuidado, com auxílio de tecnologias mediadoras da comunicação, resultando em satisfação, respeito, confiança e segurança em torno do tratamento.
A identificação e o cuidado com as sequelas pós-COVID-19 são desafios globais e impactam de forma multidimensional a vida de quem sobreviveu e de sua rede de suporte. Além de serviços de saúde que ofereçam acompanhamento integral, familiar e comunitário, ações intersetoriais devem ser implementadas, incluindo estratégias na área da saúde mental, física e de lazer, além da manutenção de políticas de transferência de renda para garantia de condições de subsistência.
Agradecimentos
À Prefeitura Municipal de Niterói, em parceria com a Universidade Federal Fluminense, pelo financiamento do estudo por meio do Edital do Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA). Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio a P. F. Almeida por meio da bolsa de produtividade em pesquisa (PQ).
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