“Política de integração assistencial e a planificação da atenção à saúde: limites e desafios na pandemia de Covid-19” é o título do artigo assinado por Ana Paula Chancharulo de Morais Pereira, Ana Luiza d’Ávila Viana, Liza Yurie Teruya Uchimura, Ana Coelho de Albuquerque e Luciana Santos Dubeux, que analisa os impactos e as limitações da Estratégia de Planificação da Atenção à Saúde (PAS) no enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil.
O trabalho destaca a dificuldade histórica da Atenção Primária à Saúde (APS) em se firmar como eixo coordenador do cuidado e a fragilidade da integração entre níveis assistenciais, problemas que se intensificaram durante a crise sanitária. Fundamentado em dados de um websurvey realizado em regiões específicas do Brasil, o estudo aponta que a pandemia evidenciou deficiências estruturais e organizacionais, mas também abriu espaço para reflexões sobre a reestruturação do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Estratégia PAS, desenvolvida pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), é apresentada como um modelo que busca articular ações e serviços em redes integradas, promovendo mudanças na gestão dos processos assistenciais. Embora a estratégia apresente resultados promissores, o estudo revela que sua implementação enfrenta desafios significativos, como a insuficiência de leitos, transporte sanitário e profissionais capacitados, além de barreiras de comunicação entre os diferentes níveis de atenção.
A publicação conduzida pelas autoras evidencia que parte das ações da APS foi suprimida ou redirecionada para atender exclusivamente os casos de Covid-19. Essa reorientação resultou na interrupção de serviços essenciais, como o acompanhamento de condições crônicas, revelando o impacto negativo da fragmentação assistencial. Ainda assim, experiências acumuladas em contextos diversos indicam que a Estratégia PAS pode contribuir para um modelo de cuidado mais integrado no período pós-pandemia.
A análise detalha que a APS, embora essencial, enfrenta desafios de subfinanciamento, precarização do trabalho e falta de integração com outros componentes das redes de atenção. O estudo reforça a necessidade de fortalecer a APS como coordenadora do cuidado, articulando ações em um sistema horizontal e policêntrico que promova cooperação e eficiência clínica.
Entre os principais achados, destaca-se a percepção de gestores e profissionais sobre a insuficiência de recursos em municípios e regiões. A ausência de articulação entre a APS e a Vigilância em Saúde, aliada à descontinuidade do cuidado, agrava o cenário de desigualdades regionais e compromete a resposta aos desafios impostos pela pandemia.
O artigo conclui que, no cenário pós-pandemia, o fortalecimento da integração assistencial e a implementação de novos modelos de gestão e atenção são imperativos. A Estratégia PAS desponta como uma ferramenta relevante para superar barreiras históricas e promover uma reestruturação alinhada às necessidades locais, desde que acompanhada por um compromisso político e institucional sólido.
Essa análise amplia o entendimento sobre a importância da coordenação no SUS e aponta caminhos para a construção de um sistema de saúde mais resiliente e equitativo, capaz de responder aos desafios futuros e garantir a continuidade do cuidado em um país marcado por profundas desigualdades socioeconômicas.